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Publicado em 16/07/2025Atualizado em 18/07/2025

Mulheres e crianças são alvos de ataques no TikTok

Por Deborah Nascimento

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Durante jantar oferecido ao presidente Lula e comitiva no dia 12 de maio deste ano, em Pequim, Janja queixou-se de conteúdos do TikTok a Xi Jinping. Disse ao mandatário anfitrião que no Brasil a rede social chinesa divulga ataques a crianças e mulheres. O Alumia checou se tem fundamento a denúncia da primeira-dama do Brasil. Checou e constatou. Veja como e porque.

O QUE É, COMO É

TikTok é uma plataforma de mídia social que permite ao usuário criar, compartilhar e descobrir vídeos curtos, geralmente com música de fundo. Lançado em 2016, o aplicativo chinês rapidamente se tornou popular em todo o mundo, especialmente entre os jovens, devido à sua interface intuitiva e ao algoritmo que promove conteúdo de forma altamente personalizada.

Segundo dados do DataReportal em janeiro de 2025, o aplicativo teria cerca de 91,7 milhões de usuários ativos no Brasil, sendo 47% do público feminino e 53%, do masculino. Esses números fazem parte de publicidade do TikTok. Podem não ser representativos de uma base real, portanto.

Monitoramento divulgado pela revista Azmina em parceria com o Núcleo de Jornalismo mostra como o TikTok contribui para a disseminação de misoginia entre adolescentes brasileiros. O algoritmo da plataforma expõe os usuários a conteúdos misóginos de forma gradual, reforçando estereótipos de gênero e normalizando a desvalorização das mulheres.

A pesquisa revelou que, ao interagir com vídeos de perfis conservadores, os adolescentes assimilam ideias que promovem a desigualdade de gênero. Apesar das políticas de proteção do TikTok, a plataforma falha em bloquear conteúdos nocivos, que se tornam cada vez mais frequentes entre os jovens.

O monitoramento de perfis fictícios no TikTok mostrou que, inicialmente, os adolescentes eram expostos a conteúdos inofensivos, mas logo passaram a receber vídeos que promovem misoginia. A influência desses conteúdos é preocupante, pois molda a visão de mundo dos jovens, levando a comportamentos hostis e desrespeitosos em relação às mulheres.

AUTOMUTILAÇÃO E SUICÍDIO

Relatório publicado em 2023 pela Amnistia Internacional, intitulado “Driven into Darkness: How TikTok’s ‘For You’ Feed Encourages Self-Harm and Suicidal Ideation” (“Levado à escuridão: como o feed ‘Para você’ do TikTok incentiva a automutilação e a ideação suicida”), analisa como o algoritmo do TikTok, especialmente sua página “For You”, pode incentivar comportamentos autodestrutivos.

Amnistia conclui que, ao interagir com conteúdos relacionados à saúde mental, os usuários são frequentemente levados a “buracos de coelho” que amplificam vídeos que romantizam a depressão e o suicídio.

A investigação também incluiu a criação de contas automatizadas que simularam o comportamento de adolescentes, revelando que, após algumas horas de uso, quase metade dos vídeos recomendados era potencialmente prejudiciais.

CRIANÇA ACESSA SEM CADASTRO

A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) abriu um processo sancionador contra o TikTok para investigar possíveis usos irregulares de dados de crianças e adolescentes.

A investigação foca no recurso “feed sem cadastro”, que permite acesso à plataforma sem login. A idade mínima para ter uma conta no TikTok, de acordo com as políticas da rede, é de 13 anos. Mesmo assim, ainda é possível ter acesso aos conteúdos da plataforma sem a necessidade de login por meio do recurso “feed sem cadastro”.

De acordo com a ANPD, esse mecanismo “escancara o acesso de crianças à plataforma, mesmo após serem barradas na verificação de idade, permitindo que continuem a navegar sem cadastro”.

A ANPD identificou indícios de violação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), especialmente no princípio do melhor interesse de crianças e adolescentes. Também foram constatadas falhas nos mecanismos de verificação de idade e tratamento de dados.

COMO DEVEM AGIR OS PAIS

A psicóloga Lenita Faissal entende que a questão das telas e redes sociais não deve ser reduzida a ser ou não ser prejudicial. Lembra que como qualquer instrumento acessível a crianças e adolescentes, exige acompanhamento de pais, escola e instituições sociais.

Além disso, complementa, é essencial que órgãos fiscalizadores implementem políticas de controle. Também é importante considerar a frequência e tempo de exposição, pois o uso excessivo pode afastá-los de interações sociais presenciais e atividades fundamentais, como brincar ao ar livre e a construção de valores morais e éticos a partir da convivência social presencial.

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